Da Botica à Universidade

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A profissão farmacêutica é, neste trabalho, abordada a partir de um cruzamento de perspectivas disciplinares que se procuram articular nas suas várias interconexões, destacando-se os contributos da história social, da história da farmácia e da sociologia, esta nas suas vertentes das profissões, dos sistemas de formação, da educação e da família, enquanto contributos parcelares que estruturaram a decomposição analítica do objecto de estudo e guiaram a pesquisa empírica.
A consulta documental incidiu em monografias, jornais farmacêuticos e estatísticas nacionais disponíveis para consulta e na pesquisa em arquivos até então não disponíveis. Estamos a referir-nos ao arquivo da Escola Médico-Cirurgica do Porto, onde realizámos uma pesquisa original sobre os seus Livros de Registo.
O Inquérito por questionário foi aplicado aos Farmacêuticos e Farmacêuticas de Oficina exercendo na zona norte, abrangida pela respectiva Secção Regional da Ordem dos Farmacêuticos. As entrevistas foram realizadas como instrumento de pesquisa auxiliar e incidiram em profissionais cuja formação e exercício se reportou ao momento em que se deram as mudanças mais decisivas na profissão em Portugal. Cada uma das partes desta obra é subsidiária das opções metodológicas e técnicas enunciadas e cuja operacionalização foge à natureza desta publicação.
O conteúdo deste livro está organizado em três partes. Na primeira parte, designada Da botica à universidade: transformação do conhecimento farmacêutico e das instâncias de formação, ensaia-se uma análise socio-histórica das transformações que presidiram à escolarização dos saberes artesanais no Ocidente, bem como as suas condições e consequências no caso farmacêutico. Assim, o objecto da primeira parte é a transformação do conhecimento farmacêutico e das instâncias de formação que estiveram na base da passagem da oficina-botica, como instância de formação e de trabalho, à universidade, como instância de formação distinta da prática e do trabalho.
Na segunda parte, designada por Contradições e ambiguidades da constituição de uma profissão, o objecto em análise é o processo de constituição dos farmacêuticos em profissão, num contexto político, social e profissional adverso. Assim, entre os anos 30 e os anos 50 vamos deparar-nos com uma classe profissional ameaçada na sua identidade e na sua base material por um conjunto de profundas transformações e de protagonistas que põem em causa a necessidade social dos farmacêuticos. Assistiremos ao movimento protagonizado pelo Estado Novo tendente à imposição do modelo corporativo e às suas consequências no caso farmacêutico, como sejam o fechamento da profissão e a sua forma de representação profissional.
Na terceira parte, que se designa por O acesso das mulheres à profissão farmacêutica. Génese e desenvolvimento de um processo de feminização, vai estar em análise o acesso das mulheres à formação e à profissão farmacêutica, a sua emergência e condições sociais de desenvolvimento. Por esta razão, a escrita desta terceira parte assemelha-se, parcialmente, a uma reescrita de partes anteriores, percorrendo um caminho já conhecido, que nos leva novamente para o sistema de ofício e para a sua transformação profissional, procurando agora identificar a presença das mulheres, por forma a reconstituir as condições que a tornaram possível no passado e que a tornam possível no presente.
Por último, fechando um círculo aberto há muito tempo atrás, vai estar em análise a origem social dos farmacêuticos e das farmacêuticas, as condições sociais que presidem à construção e reprodução da vocação que conduz às Faculdades de Farmácia, nomeadamente o papel da família, e ainda a forma como a feminização e as contradições e ambiguidades, que desde longa data atravessam a sua prática e o discurso deste grupo profissional, são representadas e vividas nos nossos dias.

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Book Details

Data Publicação

Outubro 2004

ISBN

9789728082543

Idioma

Português

Temática

Farmacologia

Páginas

485